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Vestígios de mim

 Tenho saudade da liberdade Tenho saudade da dança no escuro Tenho saudade da subjetividade rara  Tenho saudade do sorriso Tenho saudade de aproveitar o dia Tenho saudade das particularidades Tenho saudade de respirar sem amarras  Tenho saudade de andar sorrindo Tenho saudade da música  Tenho saudade da genuína felicidade Tenho saudade do vinho quente Tenho saudade da paz da solidão  mas um aviso: eu não estou morta, parece, mas não estou Estou nadando contra mim e o que me tornei, sabendo e sentindo que eu não sou eu mesma nas minhas entranhas Também não sei quem eu sou e eu estou tentando me encontrar e me vincular comigo para que no fim, eu seja a pessoa que se apaixona por algo novo, alguém que tem ânsia sem perder o fôlego Tenho saudades de mim e pra você, leitor,  eu tenho saudade de sentir como se não houvesse amanhã.

A tua voz

 Não foram 84 anos de espera Mas hoje a tua voz entrou em mim Como uma onda Que transbordou Eu não sou mais tão boa com as palavras Mas a tua voz me fez escrever de novo Porque ela acalmou meu coração ansioso Que em nada se segurou no dia O que quero dizer é que esse poema, poesia, escrita, desabafo que veio do nada, foi o que a tua voz fez em mim Chegou de mansinho e riu Deslizou em mim como um rio Que se pudesse, meu bem Usaria dela a mais pura paz que desperta em mim  Toda noite Além de despertar tudo aquilo Que descobri quando te vi Ali sentada de frente pro rio Rio esse que é a tua rua Rio esse que é a paisagem do nosso lugar Rio esse que carrega o último barco.

Café com arte

 A roda de espelhos era viva As palmas no ar ecoavam o ar quente Soprava abafado nos ouvidos  Eu, você e ele  E só nós três  Era um novo mundo Com frestas de luzes coloridas Eram noites de pés inquietos Onde os corpos rodopiavam no ar Extravasando sorriso e suor Mais um gole Mais um trago Mais um tiro O coração palpitava a cada batida musical Do som feito cobertor  Que nos embrulhava de olhos fechados Rodava, rodava, rodava  Hálitos das diversas histórias  Bocas bêbadas e macias  Envolvendo  Eu, ele e você  Em um novo mundo  Que criamos somente em nós

O último barco

 Apaixonar-se  Significa atravessar um labirinto em chamas Significa soprar as cinzas do passado  É esperar até o último barco Até alojar-se em um eco acalorado De um olhar ou um riso que lhe transmite o infinito Há quem diga que é amor Ou que seja a discreta alegria de carnaval  No espaço onde as vozes dançam E o tempo se perde junto das palavras Apaixonar-se É o calor do mundo na ponta dos dedos  Que se entrelaça nas mãos juntas Sobe para o peito e transborda  Numa aglomeração de pequenas felicidades E dar-se conta do sentimento inefável Do teu nome em mim.  Obrigada por tanto.

Lo ne ly

 É azul  É como uma agonia dilacerante frente ao meu peito nú Coberto de cinzas, De um nó semblante,   Que grita vermelho Eu quero te quero perto de mim Será carência que eu quero silenciar? Ou de fato é dor que eu quero gritar? É tão só É tão agitado os passos de quem grita É tão pulsante o coração sem a agonia de amar É tão ansioso Que pela morte respira A vontade que não quer partir É preto e branco Eu posso te ligar?  Dizer-te o meu nome?  Onde eu moro?  Dizer-te quem eu sou?  Talvez você me conheça Ou não Talvez você fuja Talvez você se zangue Mas que sorte Quem é? Você? ou Eu? É tão solitário Que quando escrevo Não é o teu nome que eu escrevo É o meu É o meu peito Que pulsa  Por mim. "Cause I've had everything But no one's listening And that's just fuckin' lonely"

Águas de março

Eram águas de Março Dias antes da quarentena Era sábado, eu me lembro Era dia de gritar amor Dia de Vanguart Dia de amizade Dia de tomar uma, duas, três... Até que eu te vi Era tarde Duas da manhã, Três, talvez O álcool bateu na porta Eu dancei, cantei Tu dançaste, cantaste Todos dançaram Como nunca mais Era o teu sorriso ali No mais escondido canto No meio da pista de dança Onde eu esqueci o mundo E te olhei dentro do escuro Que cor mesmo era o teu cabelo? Era enrolado, Desorganizado, macio Delirantemente Apaixonei-me por uma noite Não sabia do teu nome Não sabia do teu endereço Não sabia do teu toque Não sabia do teu homem Até que tu me olhastes de volta E eu te beijei e tu me beijastes de volta Era sábado, era amor, era amizade, Era dia de tomar uma, duas e tu. Era o dia em que eu te deixei em casa Eu estava bêbada e tu também Era o dia que eu te veria Pela primeira e última vez Mas é aquela coisa Estamos

Querido diário virtual: Rotina perdida

Abro os olhos, sinto que estou respirando, levanto ou continuo sonhando? Tenho trabalho? Leituras obrigatórias da faculdade? Volto a sonhar. Abro os olhos. Droga, não desliguei o wi-fi. Mensagem dele. Mensagem dela. Bom dia. Instagram. Uau. B.E. is so fucking amazing. Maio. Desligo o celular. Abraço Pandora. Amor. Levanto. Espelho. I don’t wanna be you anymore. Vaso. Espelho, shit. Desço as escadas. Abro as janelas. Maio!! A fase mais perdida e mais medrosa da minha vida? O vídeo de when the party’s over é a descrição do agora, faz sentido, sempre fez sentido e estava ali esperando por mim. É como se você bebesse o que te faz mal porque cede a isso. Você atende/responde porque quer, a aflição te consome, consome o teu organismo, e o teu espirito por não aceitar mais esse tipo de masoquismo, expele, transborda, grita. Aquilo que faz e já te fez mal te esgota, mas não te devora mais, só que ainda sim, ele surge, brota, aparece. Por agora.   Sento na porta de casa com o chocolate qu