Fragmentos de carta (I)

1899

Sinto- me péssimo por só agora lhe escrever.
Eu fugi do escombros e deixei-os para trás. Deparei-me com um novo lar. Estou a andar pelos trens e permito-me conhecer pessoas de diferentes tipos e etnias.

Às minhas primeiras viagens, deixo claro que fora todas um infortúnio sem dó. Melhorou então com a entrada de uma grande mulher. Misteriosa*, gorda* e cega*. Era uma contadora de histórias, aparentava ter no mínimo 50 anos de grandes historias. Enquanto contava suas aventuras paradoxas, lembrei-me mais uma vez do teu rosto. Rosto teu, sereno e ansioso como quando encorajava-me a contar minhas desventuras pelas pequenas trincheiras de nossa cidade, eram tremendas besteiras de um jovem louco, devo dizer e teus olhos acompanhavam meus gestos de forma graciosa*. Ao lembrar-me disso, sorri destemido.

Contou ela, sentada em um mar de palha fofa que Deus nos testa para que possamos evoluir cada vez mais. O deus que acreditávamos olhando as nuvens* quando pequenos, lembra-te? Quanto mais queremos, mais demoramos a alcançar, disse ela. Deixou-me um tanto furioso*. Devo privar-me de querer-te tanto por perto, Maryanne? Devo dizer-te que não quis pensar muito nisso para não discutir mais sobre o assunto, além do mais, eu estava sujo* e aquela noite estava quente.

Sim, eu ainda estou sujo. Sujo de um cinza que não atrevo-me dizer que é cor. É poeira, terra, tão sujo quanto vários amigos que estão sempre indo e vindo destes vagões.

Hoje aos 17 estou conhecendo o mundo e estar bêbado de absinto (uma bebida mágica, onde nos faz ver uma fada verde. Disseram-me que devemos fazer-lhe pedidos.) está no auge do senhor tempo.

Ah, Maryanne, sinto tanta a tua falta. Sinto tanto em dizer-lhe que estou conhecendo o mundo aos 17 anos e não sei nem onde estás. Sinto uma insensatez mórbida por delirar de um sonho que muito falávamos aos 15.

Voltarei a escrever em breve.

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