Carta jogada ao vento
Final de 1900- vagão-13 Vejo-o dormir tão destemido, meu caro Frederico. Tão leve e apaixonado. Conhecestes o amor ao vento, conhecestes a alegria do teatro movimentando-se por entre o vago espaço-tempo de nosso mundo. Viajamos por tanto tempo e fostes o primeiro a aceitar-nos como companheiros. Eu e os pobres jovens delirantes, somos irresponsáveis apaixonados por expressionismo exorbitante. Somos irrepreensíveis. Donos de nossos próprios personagens da vida. Preciso dizer-lhe que tudo se movimenta rápido demais, assim como o companheirismo que criamos. Veja bem, meu jovem Frederico, estamos unidos* por estarmos perdidos. Digo-lhe agora com o peito desnorteado de tão apertado que amo-o. Amo-o como quando tomei os primeiros goles de absinto e olhei-me no espelho logo em seguida e a tinta escorria de estrondosas cores, amo-o como o primeiro trago de ópio. Amo-o como quando, naquela noite...