Fragmentos de carta (II)

1900

Sem paradeiro, estou indescritivelmente feliz. A felicidade é um sonho como dizem os poetas. De onde estive, dos meus sonhos embaçados cheguei à Paris de navio* não sei de onde, quando, mas encontrei-me lá cantando alto e de bom grado em outro vagão sujo com um grupo teatral de jovens bêbados sonhadores.

Ah, Maryanne, novamente perco-me em teus olhos dizendo-me sinuosamente para seguir todos os meus surreais sonhos. Fecho os meus olhos e me perco em nossa infância. Em pensamentos momentâneos, assombro-me com cataventos enormes, mais ainda com o mais lindo e gigantesco elefante luxuoso em um jardim.
Era como se eu estivesse em transe, em um sonho e ao acordar encontrei-me em um mundo revolucionário. Um mundo boêmio onde podíamos expressar o que nos enchia de amor, música alta feroz*, escritores cheios de gratidão, pães suculentos*, absinto e músicos para com trilhas sonoras em sanfonas perdidas. Eu estava apaixonado! Era o meu lugar e estava repleto* de cada pedaço de minha alma e você soube disso o tempo todo.

Alojei-me em um quarto abandonado onde escrevo-te agora. Não conheci ninguém mais além dos amigos teatrais.
E no mais profundo* e ardente sonho, permito-me andar pelas trilhas* de um mundo livre, brusco e inconsequente. Surreal. Pergunto-me como posso não compartilhar da minha história, grande amiga? Aonde estás? Diga-me que está bem! Venha e salve-me um pouco de mim. Maryanne, por que mesmo estando em um mundo liberto ainda assim és tão inevitável para mim?

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