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Carta jogada ao vento

Final de 1900- vagão-13 Vejo-o dormir tão destemido, meu caro Frederico. Tão leve e apaixonado. Conhecestes o amor ao vento, conhecestes a alegria do teatro movimentando-se por entre o vago espaço-tempo de nosso mundo. Viajamos por tanto tempo e fostes o primeiro a aceitar-nos como companheiros. Eu e os pobres jovens delirantes, somos irresponsáveis apaixonados por expressionismo exorbitante. Somos irrepreensíveis. Donos de nossos próprios personagens da vida. Preciso dizer-lhe que tudo se movimenta rápido demais, assim como o companheirismo que criamos. Veja bem, meu jovem Frederico, estamos unidos* por estarmos perdidos. Digo-lhe agora com o peito desnorteado de tão apertado que amo-o. Amo-o como quando tomei os primeiros goles de absinto e olhei-me no espelho logo em seguida e a tinta escorria de estrondosas cores, amo-o como o primeiro trago de ópio. Amo-o como quando, naquela noite

Fragmentos de carta (II)

1900 Sem paradeiro, estou indescritivelmente feliz. A felicidade é um sonho como dizem os poetas. De onde estive, dos meus sonhos embaçados cheguei à Paris de navio* não sei de onde, quando, mas encontrei-me lá cantando alto e de bom grado em outro vagão sujo com um grupo teatral de jovens bêbados sonhadores. Ah, Maryanne, novamente perco-me em teus olhos dizendo-me sinuosamente para seguir todos os meus surreais sonhos. Fecho os meus olhos e me perco em nossa infância. Em pensamentos momentâneos, assombro-me com cataventos enormes, mais ainda com o mais lindo e gigantesco elefante luxuoso em um jardim. Era como se eu estivesse em transe, em um sonho e ao acordar encontrei-me em um mundo revolucionário. Um mundo boêmio onde podíamos expressar o que nos enchia de amor, música alta feroz*, escritores cheios de gratidão, pães suculentos*, absinto e músicos para com trilhas sonoras em sanfonas perdidas. Eu estava apaixonado! Era o meu lugar e estava repleto* de cada pedaço de minha

Fragmentos de carta (I)

1899 Sinto- me péssimo por só agora lhe escrever. Eu fugi do escombros e deixei-os para trás. Deparei-me com um novo lar. Estou a andar pelos trens e permito-me conhecer pessoas de diferentes tipos e etnias. Às minhas primeiras viagens, deixo claro que fora todas um infortúnio sem dó. Melhorou então com a entrada de uma grande mulher. Misteriosa*, gorda* e cega*. Era uma contadora de histórias, aparentava ter no mínimo 50 anos de grandes historias. Enquanto contava suas aventuras paradoxas, lembrei-me mais uma vez do teu rosto. Rosto teu, sereno e ansioso como quando encorajava-me a contar minhas desventuras pelas pequenas trincheiras de nossa cidade, eram tremendas besteiras de um jovem louco, devo dizer e teus olhos acompanhavam meus gestos de forma graciosa*. Ao lembrar-me disso, sorri destemido. Contou ela, sentada em um mar de palha fofa que Deus nos testa para que possamos evoluir cada vez mais. O deus que acreditávamos olhando as nuvens* quando pequenos, lembra-te? Quanto
Em tempos de recuperação, cobrir um significado esquecido é ranger* os dentes, é apertar o peito, é escalar* em direção ao infinito, mover escolhas, é gritar forte diante de sua própria máscara*. If you come with me You'll float too.

Querido diário virtual

Na maioria das vezes sou acostumada a voltar para casa com fones de ouvido não prestando muita atenção no que a vida tem a me oferecer naquele momento. Nada importa. Só a minha volta para casa, mas... "Ela estava suja Olhos fundos cor de mel Roupas da cor do Brasil assombrado Embriagava-se sozinha de sorrisos de ponta a ponta da orelha Cantava-lhes carimbó Tateando-os com clamor Estava feliz Tropeçando na ponta dos pés como a cena lhe obrigava É a pequena parte da arte, É a bravura sem violência É a doce voz em silêncio A doce sintonia que nos tocava o peito De Cecília Meireles do século passado à Dona Onete no meio do pitiú Ela cantava! De alguma forma era amor. AMOR! Sendo exposto em carne viva Diante da gente Estampado nela e na vontade de estar ali AMOR! Segurando um minúsculo chapéu palha Esperando a boa vontade De quem nem escuta Nos mais assombrosos cantos da Cidade Velha A doce mulher.

Outras terras: saudade

Saudade é alguém que chega e não sabe se fica Saudade,às vezes, tem nome próprio As vezes é o tempo. Saudade é alguém que chega antes da hora Saudade, as vezes, é vida Às vezes se resume em sete dias. Saudade fica Saudade é meio colorida. Saudade é esperar chegar do trabalho pensando que só restam mais dois dias. Saudade tem nome de melhor amiga Dor minha que é inefável, mas não atiça Dor que pretende ir, mas sempre fica. Romantizo a saudade em versos Para que não sobre lágrimas para lhe partir Para espalhar o peito em pedaços Para dividi-la em raízes entre tu e mim.
Muda-se o caminho Mudam-se o agir e o sentir Mudam-se a idade e o instinto Muda-se a cor do céu Que da memória Levem as lembranças Muda-se a liberdade Muda-se o mundo Que do meu espanto Acompanhem as folhas brancas Muda-se o infinito Mudam eu e você Muda-se o ideal Muda-se… mudam-se Mudastes, mudou-me Os versos são verdadeiros O tempo em muita "das" vezes, Também.

Querido diário virtual

Já faz algum tempo, eu sei. Eu não morri, mas cheguei à beira disso. Posso lhe contar um segredo? Minha mente foi a loucura. Veja bem, o clichê é que ninguém disse que seria fácil. Nunca disseram-me que uma mente rápida* demais traria uma tempestade de perguntas sobre mim mesma. Fácil era pensar em se embebedar estando mal. Tudo era dividido* em sorte e azar o tempo todo. Era um jogo, um jogo entre tentar manter-me sã ou jogar fora todo o processo percorrido. O veneno* é quando se tem certeza que quer melhorar e a sua mente grita: “ não, você ainda não pode melhorar.” E você revida querendo mais do que a vida pode oferecer. Você sufoca debaixo da mente encharcada de querer e não poder. ANSIEDADE. PULSA. GRITA. O tempo passa e é percebendo que nesse momento é só você. É você que tem que dar o passo de mãos dadas com a mente. Ou luta com espadas* e galhos ou você não sai da lama. Ei diário, é torto* aqui dentro. Você se tornou uma marionete do seu próprio interior quando mais se

Natal atrasado : Querido diário virtual

Talvez eu nunca tenha sido tão formal quanto agora. Talvez nem tão séria. Ela não sabe, mas estou escutando a canção que ela me mostrou. Talvez ela não saiba, mas eu nunca encontrei uma felicidade real assim antes. Eis que tudo tem sua primeira vez. Talvez seja pouco tempo, talvez seja apenas ela sabendo entrar na minha alma como ninguém jamais entrou. Ela entrou pela porta não sendo outra pessoa, não sendo somente palavras, não sendo meros gestos para que eu me apaixone. Ela é ela e é espontânea e talvez isso seja o que mais me atrai a ela inteira. (Olá, boa tarde.) Talvez eu tenha me apaixonado no primeiro dia, mas não poderia lhe dizer, era rápido demais. Rápido era dizer que eu estava me apaixonando todos os dias. Ah, era. Mas me diz, qual o problema do rápido demais se é verdade e real? Qual o problema se eu sou louca e ela meu freio? Que problemas virão se eu for a flor e ela o beija flor? Hoje não importa quantos problemas hajam, ela continua ela, e é só ela. Sabe, é