O que não vai voltar



Chegou o momento de dizer adeus a todas as coisas materiais, a cada palavra repetida dentro de caixas empoeiradas, de lágrima deixada. Lá estava eu, sentado a frente das lembranças, questionando, argumentando, o porquê de elas me deixarem pra trás, já que eu nunca as deixei...

O tempo mudava...

Estava pronto. Cada segundo que passava, eu estava mais decidido a me livrar de todos aqueles sentimentos, perdidos ou não, o que importava? Se agora a água da chuva iria levá-los para bem longe de mim. Esforçarei-me tanto para não me lembrar de nada. Agora o objetivo seria seguir.
A noite não estava limpa, o que lembrava aquele tempo que passava escrevendo todas as poesias, na madrugada, só eu e o silêncio, e colocava ao meu lado o que se passara, ou que sentia, principalmente o que mais perturbava. Coisas simples da vida que me inspiravam e eu corria para escrever...

E eu continuava tão decidido...

No meio de tantos papeis, encontrei uma carta que escrevi anos atrás e dizia que torcia por mim mesmo... Ah, lágrimas...
Só que a vida mudou, eu estou bem e gostaria de dizer isso ao garoto que estava sentado na cama com o coração apertado escrevendo pra mim...
E hoje, olhando para trás, jogo as primeiras folhas ao vento... Estou aqui vendo a força da água finalmente levar o que sempre quis proteger, o que nunca quis me livrar... É o dia de ver os objetos, os cadernos, as confissões, os surtos, o que nunca soltei da minha boca... Se distanciando de mim.

Finalmente tudo vai embora... E meu coração grita para que volte... É torturante... É parte de mim...

Estou abrindo os olhos... Nenhuma água leva e a chuva ainda não veio.

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